
A primeira escala em Santos do Queen Elizabeth 2 completou 40 anos no último mês de abril. Então considerado o mais célebre navio do mundo, a embarcação da Cunard Line passou pela cidade em um cruzeiro de volta ao mundo, no dia 4 de abril de 1985.
Acontecimento parou a cidade
“Faltavam dois minutos para às 7h quando o Queen Elizabeth 2, o maior transatlântico em operação no mundo, começou a ingressar no estuário com dois rebocadores à frente e dois atrás”, destacou a edição de A Tribuna de 6 de abril de 1985.
“Apinhadas nas muretas da Avenida Saldanha da Gama, centenas de pessoas presenciavam o lento avanço do navio, que passou bem devagar para permitir uma visão melhor e a tomada de fotografias”, continuou o artigo assinado por Moacir Pereira.
De acordo com o shiplover e historiador naval Emerson Franco Rocha, que tinha 12 anos na ocasião, a vinda do navio foi um grande acontecimento na cidade.

“A escala foi amplamente divulgada pela imprensa e foi um acontecimento na cidade, muita gente comentava sobre a vinda, inclusive no colégio. Em um aniversário de família foi um dos temas de conversa dos adultos”, relembrou.
“Muita gente acordou cedo para ver o navio passar, com certeza muitos chegaram atrasados no trabalho ou escola, o trânsito parou, e a multidão foi acompanhando de carro ou a pé até próximo da Balsa”, disse Rocha.
O serviço de transporte para o Guarujá, inclusive, chegou a ser interrompido parcialmente por conta da multidão que ocupou a plataforma flutuante de embarque para ver o navio, acrescentou.
Celebridades a bordo e segurança reforçada
Cerca de 1.190 passageiros estavam a bordo do Queen Elizabeth 2, incluindo personalidades como o então deputado federal Paulo Maluf e os atores Ben Gazarra e Vincent Price, além do professor Christiaan Barnard, que realizou o primeiro transplante de coração do mundo em 1967.
O navio atracou no cais dos armazéns 33 e 34 – o mesmo que, após o fechamento do Cais de Outeirinhos, foi amplamente utilizado pelos navios de cruzeiro na temporada 2024/2025.
Para recepcionar a embarcação, um esquema especial de segurança foi montado pela agência marítima Irmãos Cory, que ficou responsável pela operação da escala.

Segundo A Tribuna, a então Avenida do Porto foi interditada ao tráfego na altura do cais onde o QE2 atracou, enquanto o controle de pessoas foi mais restrito. Nenhum visitante, nem mesmo membros da imprensa, foram autorizados a bordo, frisou o jornal.
A Irmãos Cory alegou que as medidas eram necessárias para garantir a integridade dos passageiros e do navio – que recentemente havia sido requisitado pelo governo britânico para transportar tropas rumo à Guerra das Malvinas.
Último transatlântico do século XX
Considerado ainda hoje um dos navios de passageiros mais famosos do mundo, o Queen Elizabeth 2 foi o último grande transatlântico a ser construído no século XX e foi comissionado em 1969.
Projetado para realizar travessias regulares entre a Inglaterra e os Estados Unidos, o QE2 foi também um dos últimos navios construídos com esse propósito, em época que antecedeu a popularização dos voos comerciais a jato.
Mesmo com a diminuição da demanda por viagens de navio entre os continentes, a embarcação continuou a realizar este tipo de viagem regularmente até os anos 2000, sendo aposentado apenas em 2008.
Inaugurado quatro anos antes, o Queen Mary 2 é considerado seu sucessor e continua realizando viagens semelhantes até os dias atuais.

Construído pelo tradicional estaleiro Upper Clydebank Shipbuilders, na Escócia, o Queen Elizabeth 2 foi operado pela Cunard Line – companhia herdeira da tradição da White Star Line, a armadora do Titanic.
Com cerca de 70.000 toneladas de arqueação bruta, o navio tinha capacidade para aproximadamente 1.800 passageiros. Desde 2018, o navio serve como hotel flutuante em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Para ler mais sobre esta e outras escalas do Queen Elizabeth 2, confira nosso especial a seguir:
Texto (©) Copyright Daniel Capella (com informações de A Tribuna) / Imagens (©) Copyright Cunard Line (arquivos/University of Liverpool) e Acervo Laire Giraud