Após mais de cinco anos distante do mercado, a CVC pode voltar a realizar suas próprias operações de cruzeiros em um futuro próximo.

A informação foi revelada pelo presidente executivo Fábio Godinho, que disse que a operadora de viagens planeja trazer de volta seus fretamentos e navios próprios.

Com o fim da Pullmantur e outras empresas das quais a CVC tradicionalmente afretava navios, uma questão fica no ar: que navios poderiam ser utilizados?

navios de cruzeiro CVC Brasil
Empress foi um dos navios de cruzeiro que operaram no Brasil fretados à CVC

Nesse especial, o Coluna Editorial Marítimo tenta responder essa pergunta, analisando o mercado e propondo soluções que poderiam funcionar no contexto atual.

Importante frisar que não se tratam de informações oficiais, mas sim de observação da frota mundial, histórico recente do mercado de cruzeiros e análise de possibilidades.

CVC pode voltar a ter operação de cruzeiros própria na temporada brasileira

Navios da Seajets

Quatro navios de cruzeiro de grande porte e relativamente modernos estão imobilizados na Grécia desde que foram adquiridos pela Seajets durante a pandemia. A empresa local não tem intenção de operá-los e vem mantendo-os com a expectativa de realizar fretamentos ou revendas.

A frota inclui opções interessantes para uma empresa com o perfil da CVC. A principal delas é o antigo Costa Magica, que foi construído em 2004 e passou a se chamar Goddess of the Night no ano passado.

navios de cruzeiro CVC Brasil
Agora com o nome Goddess of the Night, Costa Magica chegou a ser incluído no projeto de uma nova companhia de cruzeiros mas planos não avançaram 

Considerado um navio moderno e de porte considerável, conta com grande quantidade de cabines com varanda e tem capacidade para mais de 3 mil passageiros, além de pouco mais de 100 mil toneladas.

Em seus interiores, traz atrações como toboágua, área infantil, restaurante de especialidade, grande átrio com elevadores panorâmicos e alta quantidade de bares, além de spa e academia completos.

A Seajets ainda mantém um gêmeo do último navio operado pela CVC: o Majesty of the Oceans. Construído nos anos 1990 para a Royal Caribbean, o navio está fundeado em uma baía próxima à cidade de Atenas e é considerado idêntico ao antigo Sovereign/Soberano.

Antigo Majesty of the Seas, visto em foto da Royal Caribbean International, segue desativado na Grécia

Outras opções do armador grego incluem o antigo Veendam, operado pela Holland America Line até 2020, e o antigo Oceana, operado pela P&O até o mesmo ano.

Os navios da Seajets, no entanto, exigiriam um investimento monetário considerável, já que estão há cerca de cinco anos imobilizados e não vêm passando por manutenção adequada. Além de gastar com o fretamento ou aquisição e potenciais reparos cosméticos, seria preciso investir em recertificações e reativações que tendem a ser custosas, complicadas e, por vezes, demoradas. 

Ainda na Grécia

Ainda na Grécia, a Celestyal Cruises conta com dois navios mais modernos: o Celestyal Journey e o Celestyal Discovery. Antes operados pela Holland America Line e pela AIDA Cruises, respectivamente, têm capacidade para cerca de 2 mil passageiros cada e características que poderiam favorecer uma operação em águas brasileiras.

Celestyal Discovery
Antigo AIDAaura, Celestyal Discovery foi adquirido pela Celestyal Cruises em 2024

Lançada em 2015, a Celestyal é uma marca da Louis Hellenic Cruises, empresa que já trabalhou com a CVC no passado. Um fretamento, no entanto, parece improvável já que a marca vem recentemente investindo em expandir suas operações, com foco no Oriente Médio.

Neste ano, inclusive, a companhia assinou contratos com governos como o dos Emirados Árabes Unidos e do Qatar, garantindo manter sua operação na região por ao menos três anos. A temporada no Oriente Médio acontece na mesma época que a brasileira.

navios de cruzeiro CVC Brasil
Ocean Majesty foi comissionado na década de 60 e vem sendo fretado a diversos operadores nos últimos anos

Outros navios gregos também poderiam estar disponíveis para eventuais contratos de afretamento, incluindo o Ocean Majesty, da Majestic International Cruise Lines, e o Aegean Odyssey, da Aegean Experience Maritime.

Comissionadas entre os anos 1960 e 1970, as embarcações têm capacidade para cerca de 500 passageiros cada e estão entre as mais antigas da atualidade. Assim, não parecem ter o perfil adequado para o mercado brasileiro ou a CVC.

Opções na Ásia

O continente asiático conta com diversas opções de navios potencialmente disponíveis para um contrato de fretamento. Com o mercado chinês em baixa, embarcações como o antigo Grand Voyager, que já foi fretado pela CVC no passado, estão atualmente desativadas, aguardando definições em relação aos seus futuros.

navios de cruzeiro CVC Brasil
Atualmente na China, o ex-Grand Voyager chegou a ser fretado pela CVC no passado

Além do ex-Voyager, o gêmeo ex-Explorer também se encontra imobilizado na China, enquanto o antigo Pacific Venus está inativo na Coréia do Sul.

A época de cruzeiros no Brasil é baixa temporada para a operação de cruzeiros na Ásia, o que também pode abrir outros caminhos. Navios como o antigo Oriana da P&O Cruises, o antigo Costa Mediterranea e o ex-AIDAvita vêm operando na região e poderiam ser considerados para um contrato de fretamento pontual durante o inverno local.

Costa Mediterranea
Antigo Costa Mediterranea é agora operado pela Adora Cruises na China

No Japão, o antigo Nippon Maru será aposentado pela Mitsui Ocean Cruises em breve e está, em teoria, disponível para um novo operador após maio de 2026.

Já na Índia, a Cordelia Cruises também poderia ser uma alternativa de parceria para fretamento. A companhia local anunciou recentemente a compra de dois navios da Norwegian Cruise Line e passa por fase de grande expansão.

Grandes companhias

Por falar em Norwegian Cruise Line, a companhia tem histórico recente de fretamento e venda de seus navios mais antigos. Entre 2024 e 2025, três embarcações foram envolvidas em negociações: o Norwegian Spirit, o Norwegian Sun e o Norwegian Sky.

Enquanto o primeiro foi fretado para uma temporada de inverno na Ásia sob a bandeira da operadora de viagens local Lion Travel, os outros dois foram vendidos para a Cordelia Cruises.

Norwegian Cruise Line
Norwegian Sky deixa a frota da Norwegian Cruise Line em 2026

De acordo com a Cruise Industry News, as negociações são parte de uma nova estratégia da companhia para sua frota, que não descarta se desfazer de leitos para otimizar sua oferta.

Um fator que poderia ajudar uma eventual negociação com a CVC é a ausência de participação da empresa no mercado de cabotagem brasileiro, evitando concorrência.

A Norwegian Cruise Line opera navios modernos e em sua maioria de grande porte, com grande quantidade de cabines com varanda e atrações de alto padrão.

Costa Fortuna
Costa Fortuna foi vendido para a Margaritaville at Sea neste ano

Também não podem ser descartadas negociações com a Carnival Corporation. Desde 2019, a empresa – que é o maior conglomerado de cruzeiros do mundo – vem apostando em modernizar sua frota, se desfazendo de embarcações menores e menos eficientes. Cerca de 30 navios já foram vendidos no período.

Uma negociação significaria aumentar a concorrência para a Costa Cruzeiros, que é também parte do grupo, mas se encaixaria também com a estratégia atual da empresa de enxugar oferta e otimizar seus ativos.

Recentemente, inclusive, a Carnival Corporation vendeu um de seus navios para a Margaritaville at Sea, empresa que vem concorrendo com a própria Carnival Cruise Line nos Estados Unidos.

Outras alternativas

Outras alternativas encontram-se principalmente no mercado europeu e no Mediterrâneo, com companhias de menor porte que poderiam disponibilizar seus navios durante o período de inverno local.

Opções incluem o Gemini, da grega Miray Cruises, o Astoria Grande, da russa Aquilon Shipping, e o Crown Iris da israelense Mano Cruises, além do Blue Sapphire, da Selectum Blu Cruises. Este último chegou a operar para a CVC no passado, quando era de propriedade da Pullmantur e contava com o nome Bleu de France.

Blue Sapphire chegou a operar no Brasil como Bleu de France

As opções, no entanto, não parecem adequadas para o mercado brasileiro, sendo consideradas de pequeno porte e com mais de 30 anos de operação.

Os navios poderiam eventualmente vir do mercado inglês, que conta com número elevado de companhias e tem seu período de baixa temporada – o inverno europeu – na época brasileira de cruzeiros.

Splendour of the Seas
O antigo Splendour of the Seas é parte da frota da Marella Cruises

Não há histórico de fretamentos nestes casos, mas companhias como a Marella Cruises e a Ambassador Cruise Line poderiam estar dispostas a negociar se receberem propostas atrativas.