
O projeto do novo terminal de passageiros do Porto de Santos, que será construído no Valongo, foi apresentado em detalhes ao setor de turismo.
Inspirada nos mais modernos terminais de Miami, nos EUA, a estrutura prevê um investimento de R$ 568 milhões pela Concais e foi projetada para ser um divisor de águas na experiência de cruzeiristas e tripulantes.
As informações foram reveladas pelo projetista Ivan Jardim e pela ex-diretora do Concais, Sueli Martinez, durante um evento da Associação dos Profissionais do Turismo da Baixada Santista (APT), realizado na Associação Comercial de Santos.
“O que me move aqui, e a gente fica muito feliz, é dar uma experiência boa para o passageiro. Isso é o mais importante”, disse Martinez durante a apresentação, que aconteceu no começo de setembro.
O porquê da mudança: as limitações do terminal atual

A decisão de mover o terminal de Outeirinhos para o Valongo surgiu da necessidade, disse Jardim. Além da futura instalação de um terminal de fertilizantes em área vizinha, a estrutura atual possui limitações operacionais críticas, que impedem melhorias mais significativas.
“O Concais atual possui uma faixa onde só existe um berço à frente dele. Mas, em muitos dias temos operação de três navios ou até mais navios”, explicou Jardim.
Isso obriga o transporte de milhares de passageiros por ônibus para outros berços, um processo que o novo terminal eliminará completamente.
Gigantes do setor ‘amaram’ o projeto

Sueli Martinez disse que o novo terminal coloca o Porto de Santos em um novo patamar no mercado de cruzeiros, possibilitando mais investimentos.
“Esse terminal vai dar a possibilidade de operar o ano inteiro. Dá para você ter um navio de trânsito o ano inteiro, dá pra você ter embarque e desembarque o ano inteiro, talvez em número menor, mas você não parar. Isso é importante”, afirmou Sueli Martinez.
A ex-diretora de operações revelou ter apresentado o projeto a executivos da Norwegian Cruise Line e da Royal Caribbean International, que “amaram” a possibilidade.
Um projeto ‘padrão Miami’ focado no fluxo

O novo complexo foi diretamente inspirado no recém-inaugurado terminal da MSC em Miami, nos Estados Unidos, que recebeu os projetistas pouco após abrir suas portos no começo desse ano.
“Eu estive lá, nós tivemos a oportunidade de conhecer e, é simplesmente um ‘copia e cola’ na parte do funcionamento”, explicou Ivan Jardim.
“Eles estudaram muito lá, então a gente bebeu muito dessa fonte”, acrescentou, explicando que o terminal norte-americano também foi projetado para receber três navios simultaneamente.

Assim como em Miami, o foco principal do projeto do novo Concais é o fluxo contínuo de passageiros, e não a espera.
Dessa forma, a estrutura será dividida para otimizar a movimentação:
- Térreo: dedicado ao recebimento de bagagens e ao desembarque de passageiros de ônibus de excursão e transfers, garantindo mais conforto para o público que chega em grandes grupos.
- Andar superior: será dedicado a operação de embarque, com áreas de check-in e raio-x, além de acesso aos fingers para embarque nos navios.
MSC Cruzeiros inaugura novo terminal de cruzeiros no Porto de Miami
Praça de check-in terá lojas, alimentação e acesso direto aos navios

O andar superior será a principal novidade em relação ao terminal atual, funcionando como uma “grande praça” com três áreas de check-in, além de salas de raio-x dedicadas.
O espaço ainda contará com áreas de lojas e alimentação, onde os passageiros serão recebidos antes de serem direcionados para os salões de pré-embarque de forma contínua.
Os hóspedes que vierem de carro carro acessam o terminal por uma passarela vinda do edifício-garagem, que terá mais de mil vagas.
“O conceito desse nosso projeto não é espera, mas sim garantir um fluxo sempre contínuo em direção aos navios”, reforçou Jardim, explicando que o terminal terá capacidade para mais de 2.500 assentos distribuídos em diversas áreas, mas que a operação é desenhada para que os passageiros estejam sempre em movimento.
“No andar superior, a gente tem a possibilidade de fazer a integração dentro de uma grande praça para o check-in. Depois ele passa no salão do scanner e já vai para o corredor de embarque em direção ao finger onde vai embarcar”, detalhou.
Fim dos ônibus e embarque por ‘fingers’

A mudança mais significativa será na infraestrutura de cais, projetada para navios de até 350 metros de comprimento. O novo píer permitirá a atracação de três navios simultaneamente, com acesso direto dos passageiros por meio de fingers (pontes de embarque climatizadas).
A estrutura também foi pensada para atender tripulantes com a mesma qualidade, disse o projetista, através de uma área dedicada em seu mezanino.
“O tripulante, para a cidade, tem que ser encarado como turista. E para um terminal, ele tem que ser encarado como passageiro. Ter a mesma experiência“, disse Sueli Martinez.
Segundo Jardim, com essas características, o novo terminal terá capacidade para receber até mesmo os maiores navios de cruzeiro do mundo.
Como e quando o novo terminal sairá do papel?

A construção depende de um cronograma complexo, que envolve também o poder público e a iniciativa privada. A construção da base da estrutura, que contará com uma laje e o píer, será contrapartida do contrato de concessão do novo terminal de contêineres STS-10.
A empresa que vencer o leilão pelo terminal de cargas terá até quatro anos para finalizar a obra, embora Jardim tenha revelado que há um esforço para reduzir o prazo. A expectativa é que a concessão seja efetivada até dezembro deste ano.
“Quando um privado faz uma obra, a gente entende que vai ter mais agilidade para a execução”, disse o projetista, destacando as vantagens do modelo atual.
Somente após a construção e entrega desta base, a Concais poderá iniciar a construção do edifício do terminal, obra que deve levar outros dois anos.
No último Fórum CLIA Brasil, o presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, estimou que o novo terminal deve estar pronto para a temporada 2029/2030.
A burocracia: o que ainda falta para as obras começarem?

Sueli Martinez lembrou que a empresa está pronta para realizar a sua parte do investimento, mas depende deste e outros fatores externos para começar a obra.
“Quando surgiu essa ideia do terminal no Valongo, a autoridade portuária solicitou um estudo. Isso foi em 2019. O Concais fez o projeto. Desde lá, estamos aguardando. O Concais apenas aguarda a autorização para ir pro Valongo“, declarou.
Como contrapartida pela construção, o Concais pretende ter não só sua área de concessão mudada para o novo terminal no Valongo, como também uma extensão de seu contrato, que venceria em 2038, por um período de dez anos.
Outro ponto é o acesso viário à região, que é hoje um dos mais conflituosos do porto e precisará de obras para atender o novo terminal de cruzeiros e também o STS-10.
A solução envolve um complexo de novos viadutos a serem construídos pela EcoRodovias, pontou Jardim, destacando que é necessário “um alinhamento de interesses”.
Texto (©) Copyright Daniel Capella / Imagens (©) Copyright Concais e Daniel Capella