Os cruzeiros temáticos são hoje uma parte consolidada e fundamental da temporada brasileira. O consultor de marketing e autor do livro “Memórias do Deck”, Francisco Ancona Lopez, foi uma das figuras centrais na criação e popularização desse produto no início dos anos 1990, enquanto atuava com a Costa Cruzeiros.
Em entrevista com o Portal World Cruises em 2017, Ancona Lopez explicou que a ideia nasceu de uma necessidade estratégica: preparar o mercado para uma nova era de navios maiores e mais modernos.
A necessidade de ‘renovar o público’ com a chegada de navios maiores
No final de década de 1990, a indústria de cruzeiros passava por uma transição. “Ouvimos da matriz: ‘os navios estão ficando maiores na Europa e a América do Sul eventualmente receberá navios maiores também'”, relembrou Ancona.
Na época, embarcações como o Costa Victoria e o Costa Atlantica, que tinham capacidade para cerca de 2,5 mil passageiros, estavam chegando para substituir navios menores e mais antigos, como o Costa Marina e o Costa Allegra, que transportavam menos de mil hóspedes.
“Então, tínhamos que renovar nosso público e ampliar nossa base de hóspedes. Fizemos muitas pesquisas sobre tendências de mercado e hábitos de consumo. Naquela época, as academias estavam se popularizando no Brasil. Olhando para este cenário, determinamos temas que poderiam nos trazer um novo público, mais amplo e mais jovem“, explicou.
Flashback: relembre como era a frota da Costa Cruzeiros em 2000
‘Quando você não pode mudar o roteiro, mude o navio’
A estratégia se mostrou uma poderosa ferramenta de marketing e vendas, disse Ancona Lopez, especialmente em um mercado como o brasileiro, com um número limitado de destinos.
“Quando você não pode mudar o itinerário, o ponto de atração para o passageiro se tornam as ações que acontecem a bordo do navio“, explicou.
“O cruzeiro temático se torna um cruzeiro com algo a mais; tem um forte valor agregado, o que impulsiona as vendas. O passageiro tem opções pelo mesmo preço, mas a nossa não é apenas uma viagem regular, tem atividades extras e, por vezes, até artistas famosos”.
Ele também destacou a capacidade dos temáticos de antecipar as vendas. “Quando uma edição do cruzeiro temático termina, os passageiros já começam a comprar a próxima edição, no ano seguinte. Assim, essas vendas são fortes mesmo quando o mercado está tradicionalmente mais fraco“.
O primeiro cruzeiro Fitness e a chave para o sucesso
O pioneiro foi o cruzeiro Fitness, realizado pela primeira vez em 1994 a bordo do Costa Marina, e que aconteceu anualmente por mais de duas décadas.
Na ocasião da entrevista, o temático estava próximo de ser reconhecido pelo Guinness Book como o de maior longevidade do mundo, comentou Ancona.
Hoje, o cruzeiro temático mais longevo na América do Sul é o Dançando a Bordo, que chega a sua 21ª edição em 2026, a bordo do Costa Diadema.
Segundo ele, a chave para o sucesso do modelo sempre foi a qualidade da entrega. “Você tem que fazer direito, tem que alcançar uma alta satisfação do público, investir em ‘personagens’ famosos“, disse, citando a prática de contratar campeões olímpicos e dançarinos renomados para dar aulas e palestras a bordo.
O livro ‘Memórias do Deck’
As histórias e bastidores de suas quatro décadas de carreira, incluindo a criação dos cruzeiros temáticos, foram recentemente reunidas por Ancona Lopez no livro “Memórias do Deck”.
Com 480 páginas e mais de 900 fotos, a obra documenta a evolução do setor de cruzeiros no Brasil. Após um lançamento em São Paulo, o livro teve um evento de autógrafos em Santos no último dia 22 de setembro, na Società Italiana. Editado pela Garoa Livros, o livro está disponível para compra online.
Com 900 fotos e 480 páginas, livro resgata 40 anos de histórias e bastidores dos cruzeiros no Brasil
Texto (©) Copyright Daniel Capella / Imagens (©) Copyright Daniel Capella e Memórias do Deck
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